Eu podia contar detalhes de cada música tocada por
Arnaldo Antunes no palco do Teatro Riachuelo, mas ainda assim seria um relato fraco do que realmente foi o espetáculo da noite dessa sexta-feira (27/5).
Para começar, devo voltar mais ou menos uma semana antes do show e agradecer a boa vontade de uma amiga que comprou o meu ingresso antes de esgotar, o que aconteceu em menos de 24 horas depois das senhas terem sido postas à venda.
Os preços bem abaixo da média (o bilhete mais caro saia por R$ 20 e estudantes com direito à meia-entrada pagavam apenas R$ 10) me fizeram pensar que muitos viam a apresentação somente como uma oportunidade de conhecer o teatro. Felizmente, eu queimei a língua mais tarde e a maioria conhecia e cantava alto todas as músicas.
Quando eu entrei, por volta das 21h30,
Khrystal já fazia o show de abertura. Em companhia de Júnior Primata (que por mais de uma vez arrancou aplausos do público com solos de baixo) e de Wallyson Santos (na guitarra), a cantora potiguar baseou a apresentação quase que inteiramente em canções autorais. Apenas no final abriu exceção para tocar
"Extra II, O Rock do Segurança" de Gilberto Gil, do qual declarou ser fã.
Em certo momento, ela parou o show e confessou: estava nervosa por poder cantar em um lugar "tão profissional". A plateia, simpática, apoiou a cantora e a deixou mais a vontade pra continuar.
Dez minutos depois da potiguar deixar o palco,
Arnaldo Antunes assumiu o microfone. Entrando ao som de
"Eu Já Fui uma Brasa", na voz do saudoso
Adoniran Barbosa.
O repertório continuou praticamente o mesmo do DVD
"Ao Vivo Lá em Casa" (lançado em dezembro e que deu origem à esta nova turnê). Depois de
"Iê Iê Iê",
"Vem Cá" e
"Essa Mulher", eu já era capaz de adivinhar quais músicas viriam a seguir.
Permanecer sentado, desde o começo foi um desafio, mas somente em
"Americana" eu senti a real necessidade de me levantar. As cadeiras foram as únicas responsáveis por inibir a empolgação do público, que, na maior parte do tempo, limitou-se a bater o pé no chão, sacudir os braços e balançar um pouco a cabeça, mas tudo de leve pra não incomodar quem estava atrás.
As boas vindas vieram com
"A Casa é Sua", seguida de uma história dos bastidores que o ex-Titã decidiu compartilhar conosco. Contou que na van, antes de chegarem ao Teatro Riachuelo, alguém da banda havia tido uma grande epifania. Com o olhar fixo na janela do carro, ele entendeu que "em Natal, todas as árvores são árvores de Natal!". Não fiquei sozinho achando que esta era a deixa perfeita para tocar
"As Árvores", mas a canção não veio. No lugar, engatou
"Invejoso".
De casa,
Arnaldo Antunes trouxe ainda a simpatia. Por umas duas vezes, desceu do palco e caminhou entre as fileiras de fãs. Durante a apresentação, dançou, pulou e rasgou a calça até encerrar ("do jeito que começou") com
"Eu Já Fui uma Brasa", agora numa versão mais iê iê iê.
O bis chegou para nos presentear com mais duas músicas. Foi quando o público esqueceu de vez a norma de "cada um no seu lugar" e tomou a frente do palco.
Mas esta ainda não seria a última vez que veríamos o Antunes.
Eu já estava quase na porta de saída quando, "pra tocar só mais uma", a banda ressurgiu.
"O Pulso" foi escolhida para dar um ponto final na noite, deixando todos com a certeza de que "o corpo ainda é pouco" em um show como esse.
*Fotos: Anny Gabrielly (@annygaaby)