sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Será por ele que finalmente poderei ser julgado". Patrick Laplan fala sobre o primeiro disco da Eskimo

Ex-Hermano e Ex-Biquíni Cavadão, Patrick Laplan encara agora o desafio da banda própria.
Patrick Laplan é uma daquelas pessoas que conhecem bem o cenário pop rock do país. Afinal, ele próprio ajudou a construí-lo. Já tocou com Biquíni Cavadão, Blitz, Rodox, MV Bill, Érika Martins, entre muitos outros nomes fortes e de influência na música brasileira. Até hoje é conhecido pelo posto que ocupou na Los Hermanos: era baixista na formação original e deixou a banda em 2001.

Toda essa experiência precisava escoar, e para isso Patrick deu luz à Eskimo, uma banda pra chamar só de sua. Os primeiros testes ocorreram ainda em 2006, época em que lançou um EP de quatro faixas. Depois disso o projeto parecia ter desandado. 

Há pouco mais de um mês, porém, Patrick apareceu com um disco inteiro da Eskimo. E "Felicidade Interna Bruta" não poderia ser algo mais pessoal. Gravado de forma independente (com uma calma que resultou em cinco anos de gestação do disco) Laplan finalmente escoou todas as suas influências nas 16 músicas desse trabalho. E não apenas influências musicais.

Por e-mail, ele conversou conosco e respondeu às perguntas que você lê abaixo.


Aqui tem Som: A Eskimo não é bem uma banda nova, certo? Existe já há algum tempo, e em 2006 até lançou um EP com quatro músicas que agora estão no "Felicidade Interna Bruta". Algum motivo para esse disco de estreia ter demorado tanto?

Patrick Laplan: Mesmo com um EP/Demo lançado em 2006, ainda considero uma banda nova. O EP funcionou como termômetro, um teste em aberto. A banda só começou a fazer shows no final de 2009.

Capa de "Felicidade Interna Bruta",
 uma verdadeira Caixa de Pandora.
A demora pro disco nascer foi grande, mas relativa. Fiz o disco sem pressa. É preciso ter o que dizer, pra então dizer. Pra ter conteúdo, história pra contar. É o mínimo de respeito que se deve a quem vai te ouvir. Mas imagino que um pouco de insegurança também tenha tido sua parte nessa história, pois é um disco divisor de águas na minha carreira. Será por ele que finalmente poderei ser julgado, se é que isso seja necessário.

O disco levou mais de 1 ano sendo gravado, quase todo em casa, sem taxímetro. Se perde na questão tempo, mas se ganha em muitas outras.

Esse processo está muito bem detalhado no diário de bordo do nosso site. E temos 6 videos de making of do disco no youtube [Assista ao primeiro deles aqui].

Foi exaustivo, mas recompensador.

ATS: O disco possui cerca de 70 minutos de duração, um tanto longo para uma época em que as pessoas preferem ouvir apenas aquelas músicas que mais lhes agradam. Não rolou um medo de "Felicidade Interna Bruta" tornar-se entediante por causa disso?

Patrick: Não. Ninguém é obrigado a ouvi-lo de cabo a rabo sempre. Cansou de uma? Pula pra próxima. Não gosta de alguma? Quando botar no seu mp3 player, delete o que você não gostou. Viva a tecnologia.

ATS: Ouvir "Felicidade Interna Bruta" é como abrir uma Caixa de Pandora. De dentro dele sai samba, tango, rock e uma quantidade enorme de outros gêneros. Ele parece conter tudo aquilo que você sempre quis tocar, mas não podia. Isso é verdade?

Patrick: Sim. Em geral você usa um brinquedo por vez. Eu diria que é a oportunidade de tocar tudo ao mesmo tempo, de brincar de tudo que gosta ao mesmo tempo. Porque se você está numa orquestra de Tango, não vai poder se desviar muito do estilo.

O Eskimo é feito por quem gosta de tocar muitos estilos diferentes, e para ser ouvido por quem gosta de ouvir muitos estilos diferentes. Muitas vezes dentro da mesma música.

Acho que devo isso a referências como Mr.Bungle, Oingo Boingo e Beck, que mostraram que você não precisa estar amarrado a nenhuma estética pra funcionar num formato popular.

Mas confesso que depois de tanto tempo, era tamanha a vontade de expressar o que eu queria, que saiu tudo ao mesmo tempo. Como uma erupção, descontrolada e sem filtros.

ATS: Se há um elemento presente do início ao fim do disco, este é o oceano. As referências começam com a capa e o encarte, e continuam nos títulos de várias músicas ("No Fundo do Mar", "Homem ao Mar", "À Deriva"). Você pode nos explicar isso?

Patrick: Com prazer. O encarte é todo baseado num casal (real) que teve sua história ligada pelo mar, e pelo velejar. É como se fosse um diário dele, com as lembraças dela. Fotos, e as reflexões dele em relação a ela. Que seriam as letras.

Eu "cresci" num barco. Minha família sempre foi "marítma", e tivemos e temos muitos competidores no esporte. Então é um universo muito natural pra mim. Me sinto com propriedade pra tratar dele.

"Felicidade Interna Bruta" condensa muitas influências de Patrick. Não apenas influências musicais.
ATS: "Harbolita" e "À Deriva", sem dúvidas, são minhas preferidas no disco. Não raramente, me pego cantarolando o refrão de uma das duas. Entre todas do "Felicidade Interna Bruta", há alguma com a qual você se identifique mais?

Patrick: Imagino que pra mim as músicas tenham significados diferentes que para o ouvinte. E quem sou eu pra estragar o filme que a pessoa criou? Certamente deve ser lindo.

Muito do que está escrito ali, toca em assuntos de cunho muito pessoal. E isso certamente atrapalha na democracia. kkkkk. Eu gosto de todos os filhos, mas Botões, Bipolar, À Deriva e No Fundo do Mar, são as que eu levaria pra uma ilha deserta.

ATS: Pra não dizer que não falamos de Los Hermanos. Afinal, já se passaram 10 anos desde que a deixou e mesmo assim você ainda é lembrado por ter sido baixista nos primeiros anos da banda. Aqueles que estiverem procurando por influências de seus antigos trabalhos, podem encontrá-las neste disco?
Patrick: Acho bacana essa lembrança. Um carinho, de certa maneira.

Imagino que sim. Poque afinal de contas, eu ainda era eu naquela época. Então por mais que eu tenha evoluído (ou regredido, vai saber") ainda será possível traçar paralelos com quem eu fui.


ATS: E shows com a Eskimo? Agora que o disco saiu, você pretende entrar em turnê divulgando o "Felicidade Interna Bruta"? Se sim, Natal pode entrar na rota?
Patrick: Vamos fazer shows, com certeza. Tenho muito carinho por Natal. É uma cidade que sempre abrigou bem todas as minhas "encarnações".

O que se deve saber, é que para uma banda do Sul e Sudeste subir pro Nordeste é uma coisa com um custo muito grande. Isso dificulta um pouco. Tenho certeza de que isso funciona vice-versa. Então em geral se 
espera agrupar um número de shows seguidos pra ajudar a custear a turnê.

Será um prazer levar o Eskimo para Natal e rever meus amigos daí. Já faz um tempo desde a última.

Mesmo não sendo fácil, Patrick afirma que seria um prazer tocar em Natal.
*Fotos do MySpace oficial da banda, clique aqui para ver mais.