Nada de tamborim, pandeiro ou bandolim. Sem vez para o cavaco, surdo ou tantã. O samba se escondeu no "Segunda Pele", novo álbum da cantora potiguar/carioca Roberta Sá. Talvez o título seja sugestivo, ao contrário da música homônima, que não faz qualquer tipo de referência à mudança de estilo.
Apresentando ou não a sua 'segunda pele', em seu novo disco, Roberta mostra que seu valor não está resumido apenas nas rodas de bamba. A primeira impressão é clara: a cantora quer fugir do rótulo corriqueiro de sambista.
Longe do estilo que lhe deu grande projeção nacional, Roberta Sá, porém, não se arrisca na produção das músicas e se blinda nos compositores que confia. Pedro Luís, Moreno Veloso, Lula Queiroga aparecem novamente no novo álbum. De novidade, a cantora gravou sua primeira música em outra língua: "Esquirlas", composta por Jorge Drexler.
O disco, produzido mais uma vez por Rodrigo Campello, traz tonalidades diferentes à voz de Roberta Sá. Guitarras e violões também ganham muito mais efeito do que de costume, além do acréscimo de violinos. E talvez o principal elemento do disco, antes desprezado pela potiguar, ganha vez: os metais. O naipe se mostra suave, mas aparece em praticamente todas as composições, com destaque na regravação de "No Arrebol", de Wilson Moreira - que também leva uma guitarra pra lá de praieira.
No quesito regravações, Roberta também se arriscou nas marchinhas com "Deixa Sangrar", de Caetano Veloso, que já havia sido gravada por Gal Costa. Além disso, a cantora consolidou sua terceira composição na carreira em "No bolso", com Pedro Luís. A canção é ditada pelo som dos trompetes.
A potiguar, no entanto, não deixou o samba completamente de fora do novo disco. "O Nego e Eu", em parceria com o talentoso João Cavalcanti, vocalista do Casuarina, aparece com tudo que tem direito: bordões, cuíca, um metal de gafieira e um refrão que pega. João, por sinal, divide os vocais com Roberta apenas no refrão da canção.
Outros destaques no disco vão para a música "Segunda Pele", de Carlos Rennó e Gustavo Ruiz, "Pavilhão de Espelhos", primeira música de trabalho do disco, composta por Lula Queiroga, e a belíssima "Você não poderia surgir agora", de Dudu Falcão.
Não é a primeira vez que Roberta sai da rotina do samba. O rock'n'roll de "Dê um rolê", dos Novos Baianos, gravada em parceria com Pedro Luís para o filme "Zuzu Angel" é um dos raros exemplos antes do novo disco.
O novo álbum é bom. Talvez fique devendo em relação aos dois primeiros ("Braseiro" -2004 e "Que belo estranho dia pra se ter alegria" -2007), também produzidos por Rodrigo Campello. Entretanto, dá o primeiro sinal de que Roberta busca conquistar muito mais na carreira do que ficar presa a um único ritmo.
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