quinta-feira, 17 de novembro de 2011

DoSol no Domingo: Uma crônica que já foi tuitada

Pra minha infelicidade, esse tweet não teve nenhuma resposta.
Carona: esse foi o meu maior desafio para cobrir os shows que aconteceram no domingo (6) no Festival DoSol. Eram 15h e eu ainda estava procurando como voltar da Ribeira de madrugada. E a ida? Bem, eu já estava lá. Assim como qualquer profissão tem as suas dificuldades, jornalista também tem: ter de trabalhar a qualquer momento, a qualquer hora, a qualquer dia. 

E lá estava eu, trabalhando em plena tarde de domingo tentando se preparar para essa dualidade entre diversão e trabalho que é "cobrir" um festival de música. Sim, tentando. Ninguém da equipe do blog, além de mim, foi a esse dia do evento, justamente por causa da carona. Ninguém tinha carona, então ninguém foi. Só eu, que já estava lá na Ribeira mesmo. Mesmo assim, não tinha uma câmera, pois sai apressado de casa e esqueci. "Grava com o celular". O meu celular é um lixo, nem câmera tem. O máximo que eu podia fazer era usar o txt, serviço do Twitter que permite atualizá-lo através de SMS. Ou seja, organização quase nula.

Organização foi uma palavra-chave no evento. Cheguei na parte de trás de onde o festival se encontrava, me identifiquei e perguntei ao "staff" -- ao menos estava escrito isso na camiseta deles -- se era ali que a imprensa entraria. Logo, me deram a notícia de que precisariam de uma lista para confirmar quem era da imprensa mesmo e que eles não estavam com ela no momento. Que eu deveria esperar na entrada principal para ter uma resposta melhor. Quando cheguei na entrada, ouvi a mesma história. Comprei uma longneck e esperei alguns minutos. Comecei a ouvir uma banda de hardcore tocando. "Deve ser a passagem de som do Antiskieumorra", pensei. Mais um gole. Nada da lista. Outro gole. Mais música vinda de dentro. Gole. Nada da lista. 

Ah, foda-se. Comprei o ingresso na hora e entrei no festival. Já que eu perderia o fim por não ter carona, não perderia o início. Assim, foi o começo do DoSol no domingo para mim.

ANTISKIEUMORRA
Antiskieumorra, uma banda que só aceita gente linda e chique. (Foto:Divulgação)

É foda ser a primeira banda do DoSol. Geralmente não tem ninguém e quem está não tem álcool na cabeça o suficiente pra estar animado. No sábado, vi pessoalmente os Dessituados sofrerem com isso. A banda faz um punk rock muito bom, mas é triste ver eles tocando para um bando de gente parada, quase como se estivessem brincando de estátua -- ou se perguntando se deviam ter chegado só na hora da banda principal. Se com uma banda de punk rock já é ruim, imagina pra uma banda de grindcore/thrashcore/powerviolence/barulheira dos infernos.

É claro que é perfeito para a banda tocar num festival que toquem bandas como Violator, Krisiun e Dead Fish, mas não houve como não perceber a falta de platéia no show do Antiskieumorra. E não tenho absolutamente nada pra reclamar da perfomance da banda, sendo perfomance a palavra perfeita para o show "hardcoriano" da banda. Seria uma ótima pedida pra quem gosta do velho mosh/pogo. Pena que não tinha ninguém.
 
LOS COSTELETAS FLAMEJANTES
Rockabilly sem baixo acústico (Foto: Divulgação)

Com todo o respeito que eu tenho por qualquer banda, mal acompanhei o show dos Costeletas Flamejantes. O som estava legal, as músicas eram boas e a banda se comportava bem no palco. Mas eu não estava ali para rockabilly. E esse é um problema quase que pessoal pra mim: se eu vou sozinho a um show que é pra dançar, me sinto muito incômodo por lá. Principalmente quando eu vejo a platéia tomada por casais. "Ah, foda-se essa merda, to vazando desse show", pensei e fui ver a primeira banda de metal do dia.

SUNSET BOULEVARD

Primeira banda de metal do dia. "Aê, isso vai ser legal". Errei redondamente.
Qual é o principal motivo pelo qual eu escuto metal? Pra poder sentir essa sensação de "poder" que ele passa. Por exemplo, o Metallica e o Iron Maiden conseguem comandar multidões apenas com as suas músicas; o Krisiun é tão violento que nem parece gente tocando, etc. Agora, qual seria a sensação de "poder" que uma banda que tem o vocalista usando um shortinho de lycra passa?
O Iron se vestia assim, mas só porque era o Iron. (Foto: Divulgação)
Isso sem contar que ao ouvir o nome da principal música de trabalho, Malibu, a minha cabeça vai direto à homonima do Hole. Fui embora quando eles começaram a tocar Final Countdown. Aquilo foi demais pra mim. Comecei a pensar se os vinte reais que eu paguei por ser apressado valeram a pena.

CONQUEST FOR DEATH
O txt cortou, mas eu quis dizer: "É por isso que eu curto o DoSol: comprei a camisa direto com o batera do Violator e depois fui pogar com o vocal do Antiskieumorra ao som de Conquest For Death".
Sinceramente, eu nunca tinha ouvido falar dessa banda. O Conquest For Death era cotado como uma das "maiores" do dia, mas eu não conhecia nada sobre o hardcore que a banda toca. Mesmo assim, eu fui lá ver como era. É como disse o Foca no blog do DoSol: não caia no truque do "não vou porque não conheço".Vá, descubra e se divirta nos shows. Foi o que eu fiz com o Conquest.



Logo percebi que o dinheiro gasto valeu muito a pena. E como valeu. O show, simples mas eficiente, gerou uma seqüência quase infinita de moshes e um pogo incansável na platéia. Nem o guitarrista Alex aguentou muito tempo; acabou tocando boa parte do set sentado junto à bateria. Além de que foi a primeira vez no dia que eu vi o festival estar realmente lotado.

MADAME SAATAN

Foto: Daniel Herrera, do blog Fuga Underground (http://www.fugaunderground.com/)
HILLBILLY RAWHIDE

Show do Hillbilly Rawhide e eu fico pensando o que os meus colegas de blog pensariam se visse isso. Eles, que já não gostam de bandas brasileiras que cantem em inglês, cortariam os pulsos ao ver uma banda não só cantar em outra língua, mas tentar a todo custo aparentar ser de outro país. Dá até a impressão de que eles não são pessoas normais da terra do finado Alborghetti, mas sim caipiras do interior de Ohio. 

A banda num momento de diversão. Tá, não teve graça.
A banda leva a sério esse negócio de ser country ao estilo americano. Se vestem como se fossem caubóis; usam violino e baixo acústico... Até o sotaque de redneck é reproduzido. Como diria o vendedor de castanha que estava lá, "parece que estou num filme de velho oeste". Nem duvido que eles tenham uma bandeira de guerra da Confederação no camarim...

 GUACHASS


O Guachass toca um rock bem leve, descompromissado, divertido, bla bla bla. Toda aquela baboseira pra enrolar e não dizer que é um pop rock chato pra caralho. Clichê batendo no teto do Armazém, a banda destoava completamente de um dia que teve Conquest for Death e teria Krisiun e Violator. Teria passado batido por mim, se não fosse um pequeno grande detalhe:

O txt cortou esse tweet também, mas acho que não preciso explicar muito.
A vocalista Camilla Jetar não passou o som junto com a banda e só entrou no palco pra cantar, como se fosse uma grande estrela do rock brilhando no auge da carreira e platéia gritando o nome dela com toda a força. Ela é tudo isso? Não. A banda é? Menos ainda. Alguém gritou quando ela entrou? Só os mesmos secos que assistiram Madame Saatan até o final. De onde eu venho, bandas inteiras passam o som e depois tocam. Sugiro que ela ponha a mão na consciência e perceba que ela não é a última gota de cerveja no deserto do Saara.

MONSTER COYOTE
Esse tweet tem e não tem a ver com Monster Coyote.
Eu sinceramente estava esperando bastante o show do Monster Coyote. Não por que eu sou um fã da banda, mas por saber como fica o som da banda ao vivo. Eu deveria ter escrito uma review do disco que a banda lançou recentemente, "Stoner to the Boner", mas eu estava meio indeciso sobre o que falar sobre ele. É um disco excelente apenas pra quem é fanático por sludge. Quem prefere qualquer outro estilo de metal a não ser esse, vai achar o disco repetitivo e sem inspiração. O problema não é a banda; é justamente o estilo: sludge metal é repetitivo e sem inspiração. Por isso, eu estava esperando o show dos mossoroenses. Queria saber se ao vivo o som também era tão cansativo quanto ele é no álbum. 
Constatei que o som, que não funciona muito bem no disco, também não funciona bem ao vivo. A banda continuou tão cansativa quanto no estúdio. O problema, repito, é o estilo. No meu ver -- e esse texto todo é a puramente a minha opinião, sludge é um "estilo miojo": só funciona se você colocar algum tempero a mais. Sozinho, ele é incrivelmente insuportável. O Monster Coyote, infelizmente, está restrito ao seu estilo. Resta à banda "estudar mais", compor mais e aprofundar o som. Ainda há esperança para eles.

VIOLATOR
Foto: Divulgação.
Finalmente, Violator! Admito que estava esperando muito o show deles desde que Foca anunciou que os brasilienses estariam no DoSol. Mais do que porque eu adoro o thrash metal do quarteto: Violator faz parte da minha adolescência. Ainda me lembro da primeira vez que eu ouvi Chemical Assault (2006), emprestado de um amigo meu do colégio. Ouvir Violator hoje em dia é quase como se eu estivesse voltando a um tempo nem tão distante assim, mas que não voltará nunca mais.


E eles estavam lá, na minha frente, tocando o mesmo thrash metal que ouvia quando eu tinha 14 anos. Nesse meio tempo, muita coisa mudou, menos o som rápido e agressivo do Violator. O que também pareceu intacto foi o fôlego da platéia. Parecia que apenas eu ainda estava cansado do show do Conquest For Death -- se bem que todo o cansaço foi embora assim que a banda começou a tocar. E dá-lhe mosh. E dá-lhe pogo. E dá-lhe segurança puto com o pessoal esbarrando no retorno -- quase que o vocalista e baixista Poney dá um esporro em um dos "staff". Enfim, o melhor show dos que eu pude assistir no dia e talvez o melhor que eu já tenha visto na minha vida.


SANCTIFIER
Sacanagem o que eu fiz com o Sanctifier. Estava lá no festival e nem fui ver.
Cada banda se apresentou alternando entre o DoSol e o Armazém. Monster Coyote, DoSol. Violator, Armazém. Sanctifier, DoSol. Krisiun, Armazém. Fiquei no Armazém mesmo e esperei esvaziar após o show do Violator. Escolhi um lugar na escada e fiquei lá esperando o show do Krisiun. Eu já estava bastante cansado pra assistir uma banda de death metal -- apesar de estar esperando outra.
Pois bem, se eu não fui pro show, ao menos vamos ouvir: 



KRISIUN

Nessa altura do campeonato, eu já estava pensando em como eu iria voltar para casa e no dia de trabalho que teria na segunda-feira. Conquest For Death mais Violator foi o suficiente pra esgotar uma pessoa que há quase um ano não pogava. Ainda estava cedo para voltar pra casa, mas ficar sentado num show de death metal, apesar de não ser errado, não é lá muito certo. Fui embora do festival DoSol desejando mais do que nunca ter um carro próprio...

Fim de festa, fim de texto.

Um comentário:

Helena Maziviero disse...

Hillbilly Rawhide é MUITO bom! O som dos caras é perfeito. Sou muito mais uma banda brasileira foda que canta em inglês do que essas bandas manjadas de sempre e que ninguém aguenta mais. =P