quarta-feira, 23 de março de 2011

"Ainda há esperança"

Poderíamos dizer que a Rádio Universitária, também conhecida como Universitária FM ou FMU, é a rádio da UFRN, mas ainda assim não a definiria. Poderíamos dizer que ela só toca músicas de artistas locais, mas ela é mais do que isso. Muito mais. Pelas ondas dessa rádios, são transmitidas não só a música potiguar, mas sim toda a cultura do Rio Grande do Norte. E ela está comemorando 10 anos. Para essa comemoração, foram convidados as cantoras Valéria Oliveira e Ná Ozetti, além dos grupos de dança Gaya Dança Contemporânea, Grupo de Dança da UFRN e (Com)tatos e Improvisações. Uma festa totalmente potiguar.
É claro, houve alguns problemas. Principalmente, a entrada no Teatro Alberto Maranhão. Não que a organização tenha vendido ingressos a mais – longe de mim acusá-los disso, mas o que se viu na entrada do teatro foi uma certa falta de organização. Lembrava até mesmo a bilheteria do Machadão, que, com todo respeito, não será lembrado nunca como exemplo de organização. Provavelmente por causa da falta de organização na entrada, o início do show No Ar teve um atraso de meia hora.
Logo passado esse problema, o show de Valéria Oliveira começou. E o que se viu foi mais do que um pessoa cantando. Foi uma pessoa cantando, dançando, interpretando, se emocionando com o som que estava sendo tocado. É como se ela não fosse uma cantora: é como se ela fosse a própria música. Descalça no show inteiro, Valéria contou com a participação de Gilberto Cabral, Ná Ozetti, Simona Talma e Eduardo Taufic.
Mas o ponto alto do show foi, sem dúvidas, foi o cover de "Quando" de Roberto Carlos. Num arranjo completamente diferente da música original, o baixista da banda, Paulo Oliveira, e o guitarrista, Jubileu Filho, iniciam a música. Em seguida, Valéria entoa o "Quando você se separou de mim..." acompanhada de um copo com uma bebida não identificada, possivelmente uísque. Logo a interpretação da cantora toma um caráter mais emocional, mas que, vendo pela metade, até parece displicência. No final da música, ela se vira para o fundo do palco e, numa integração com o cenário muito bem produzido pelo pintor Ítalo Trindade, ela arremessa o copo em direção à pintura, que, mesmo projetada, se quebra.
Grupo Gaya Dança Contemporânea se apresentando em frente ao TAM. Foto: Leonardo Erys
Logo em seguida, foi exibido um vídeo de vários artistas potiguares prestando sua homenagem à FM Universitária. Entre os artistas, estavam Carlos Zens, Antônio de Pádua e Rodolfo Amaral. Foi realmente maravilhoso, mas que, por ser um intervalo, acarretou um pequeno problema: muitas das pessoas que saíram não voltaram e o teatro, que começou lotado, estava visivelmente mais vazio. 
Mas isso não parece ter abalado em nada Ná Ozetti e o seu show de covers de samba Balangandãs, que nunca tinha pousado em terras potiguares. Na verdade, não parece ter efeito nem mesmo no público. O TAM poderia estar meio vazio, mas tinha a animação do Sambódromo. Havia gente sambando nos camarotes, nas frisas, em todos os lugares. A platéia inteira entrou no ritmo quando a banda tocou "A Preta Do Acarajé" de Dorival Caymmi, usando as palmas como percussão. E quando, voltando do bis, eles tocaram "Taí" de Noel Rosa, a platéia inteira cantou junto. Outra sacada notável da banda foi aliar o samba ao violocelo e ao contrabaixo, instrumentos próprios da música erudita.
Ao som da Banda Catita Choro, a festa acabou e nos deixou para refletir: que bom que há lugar para a boa música em Natal.


Foto: Lenilton Lima

 "Tem produtores que fazem músicas de baixa qualidade só pensando no lucro. E as pessoas vão ouvindo. E, às vezes, [os produtores] nem merecem. Porque a gente merece coisas boas pra ouvir. Produções bem feitas, shows maravilhosos, produtores de caráter que pensam além do dinheiro... É possível fazer arte com qualidade, sem aperreios. É possível."  
Carlos Zens

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